Um dia em minhas viagens em retiro para experiências mais profundas na espiritualidade cristã, bem como para a convivência fraterna com meus irmãos da fé, vivenciei em uma missa a manifestação daquilo que em verdade tanto demorei a descobrir, e que pelas minhas razões humanas e pequenas, insistia em ofuscar tal verdade.
Em certo momento da celebração, um homem tomado pelo álcool entrou pela porta da simples e amorosa igreja, e se destinou com objetividade a ir até o altar buscar a atenção do sacerdote com a finalidade de pedir piedosamente uma oração da assembléia para abandonar o vício.
O fato importante não é o final dessa história, mas o início e o meio. Pois, quando o homem caminhava com passos cambaleantes em direção ao altar, e quando se juntou ao sacerdote clamando o abrir dos ouvidos e corações, os vários pensamentos que ecoavam em nossas mentes, eram de julgar a presença daquele homem naquele lugar e momento tão santo. Com a nossa limitação egoísta, nos achamos no falso direito de julgar o que de fato é justo para aquele homem ou não, quais lugares ele pode pisar ou não.
Contudo, a resposta de sabedoria do sacerdote nos revelava uma verdade que no cotidiano amargo e sem amor de nossa existência finita, vinha tentar ofuscar em nosso meio e corações. Abraçando o homem, o padre pegou o microfone e proclamou: “Irmãos, vamos dar um aplauso, Jesus veio nos visitar”. Aquelas palavras penetraram em meu coração dissipando as trevas dos maus julgamentos na luz que emana da verdade do amor de Deus.
Com isso, me coloquei nas palavras e carta de São Paulo aos Coríntios, onde nos diz que “de fato Cristo morreu por todos”, e percebi que não posso eu, miserável pecador imperfeito e limitado, estabelecer em mim a audácia de me considerar juiz de alguém. Isto não me convém.
Hoje me deparo com mais uma notícia bárbara que me arrebata a um sentimento de tristeza: um irmão de rua no Rio de Janeiro é morto a pauladas e pedradas. A partir desse fato, no meu primeiro pensamento imperfeito vem novamente se instaurar a mesma audácia de querer me achar no direito de imaginar: “a pessoa que fez isso não merece...”; não necessito nem completar a frase, pois o fato de eu já desejar que alguém não mereça algo já se estabelece o ato de julgar um homem por quem Cristo se sacrificou.
É verdade que devemos ser julgados pela lei que se firma em nossa nação, e que todos somos expostos ao julgamento da mesma; e se assim erramos brutalmente contra o outro e a mesma nação, que nos restauremos nos cárceres pelos nossos atos e comportamentos. É também benéfico que lutemos pela justiça em nosso meio, pois “bem aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça”.
Porém discirnamos de qual justiça estamos falando para que não nos lancemos no erro dos maus julgamentos, pois a maior justiça é que “pelo pecado de um só a condenação se estendeu a todos os homens, assim por um único ato de justiça recebem todos os homens a justificação que dá a vida.” São Paulo. Reflitam.
Com efeito, querido leitor e irmão, possamos não configurar em nós a certidão de falsos juízes, contudo, sejamos consolidados no bem que emana do coração chagado de Cristo. De fato se faz justo que reconheçamos o valor que cada próximo abarca em si, mesmo que os comportamentos venham a ultrajar essa valia. Pois, os corações mais difíceis de serem amados, são os que mais precisam do amor.
Com isso, desejo que nesse feriado, possamos não só, celebrar a saudável alegria de sermos reflexos desse amor, mas instituir em nossas atitudes o exercício do respeito fiel a valia que comportamos dentro de nós mesmos e a que se estabelece no viver do outro. Desta forma, não queiramos ofuscar e arranhar as retinas que nos levam a vida eterna, mas com um olhar sincero e amável possamos firmar em nós a verdade de que todos carregam em si a face de Cristo.
Paz e Bem
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